sexta-feira, 19 de março de 2010

Ontem, mais uma vez, disfrutei de uma paisagem alentejana verdejante.
E do prazer que se tem em observar essa mesma paisagem, em viagem.
Os grandes ninhos cedo impuseram a sua presença. E em cada um, não apenas uma, mas cegonhas aos pares. Seus corpos, juntos, sem expepção.
Também os haviam sós, os ninhos, como que deixados ao abandono ou simplesmente à espera de quem chega a casa um pouco mais atrasado. Mas, os habitados, sempre, como disse, por um par destas majestosas aves.
Talvez tivesse sido da hora porque não me recordo de o ter presenciado noutra qualquer altura, nem em tantos quilómetros.

E ao observar, abrandar, parar, acelerar, senti novamente o gozo de uma viagem a solo. O quão libertador é. A alegria de disfrutármos de nós próprios. A opção de interagirmos ou não com o que nos rodeia.
Desligar. Apenas desligar e disfrutar o eu.
Ligar. Ligar e disfrutar de tudo. De tudo ou de nada. Ou de algo em particular.

A noite avançou, amena. E deu lugar ao encontro de um grupo de pessoas que encheram uma sala e, únidas por vários interesses, partilharam uma performance invulgar.
O silêncio deu lugar às palavras... Essas palavras de quem me era e continua a ser desconhecido. No entanto pareceram-me tão familiares e actuais. Num discurso fluido, sem rodeios. Palavras de alguém a quem vejo desaparecer lentamente, engolido por águas mornas, lodosas, e a quem faltou um outro alguém que, com uma mão firme, o agarrásse e emergisse para a vida. A vida como eu a entendo, especial, única, a que explode de dentro de nós e contagia, como de um virus se tratasse, os que connosco se cruzam.

No final, um porto de honra juntou aqueles que quizeram conviver um pouco dando um dedo de conversa. Momentos belos de troca e partilha. Faces mais ou menos vincadas de olhares doces e lábios que emitiam mais palavras. Palavras de homens desconhecidos. Vivos. Interessados em partilhar ideias. E ouvidos. Ouvidos por ouvidos que ouviam. Que ouviam e queriam ouvir. Sem pressas. Nem mesmo com dado o adiantado da hora.

O regresso foi solitário. Cat Stevens e a dupla Simon Garunkel foram os primeiros a invadirem o habitáculo. E não tardou que tivesse que elevar o volume do rádio para manter um nível de atenção razoável porque, a paisagem, essa, estava monotonamente negra. Talvez me tenha cruzado, no sentido em que seguia, por seis viaturas nos primeiros 2/3 do caminho.

Entrei numa Lisboa iluminada, adormecida.

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