segunda-feira, 12 de março de 2012

that's what friends are for

Foi-me apresentado Mr. M por um amigo comum.
Encontrei-os na rua, por mero acaso e acompanhei-os no seu almoço.

Ao que parece já nos tínhamos cruzado há muitos anos, embora não me recorde da sua fisionomia, "'é que agora uso barba. pode ser disso. recordo-me de ti".

Confesso que não fiz qualquer esforço por tentar ir ao baú da memória dos rostos fugazes. Não valia a pena. Disse recordar-se de me ter conhecido numas férias, à beira mar, e ter-me-à visto posteriormente, no funeral do pai desse nosso amigo comum.

Ali estávamos hoje, no presente, a anos luz desse tempo.

Contou como após 28 anos de trabalho numa multinacional, o chamam às 17h25 de uma sexta-feira e o informam que a empresa prescindiu dos seus serviços a partir daquele momento.
Homem novo, cargo de chefia intermédia, diz ter ficado atónito, sem reacção.

A conversa continuou agradável e foi com orgulho que contou ter feito o seu melhor durante aquele tempo, onde aquela empresa representava mais que um simples trabalho - fora o seu primeiro emprego "quando ainda era chavaleco", o local onde conhecera a sua futura ex-esposa, onde o seu filho cresceu, onde...., onde....

Uma semana passada desde a notícia, diz estar de luto. Ainda se sente perdido, incrédulo, consciente que a vida continua.  Acredita que as coisas acontecem para dar lugar a outras, tal como também acredita que as pessoas não se cruzam por acaso.

A "casa" está semi-arrumada: a indemnização caiu na conta, o subsídio de desemprego tratado, mas nada lhe tira aquele que ele chama de "enorme vazio interior".

Ao despedir-nos reparei que estava com outra postura, mais animado, divertido, utilizando um humor inteligente, sinal que tinha sacudido, por uns momentos, a nuvem cinza que teima em o acompanhar.

E custa tão pouco saber ouvir.



Ilustração: Guillermo Mordillo, Argentina 





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